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segunda-feira, 20 de março de 2017

Viva a família tradicional brasileira (SQN!)

Há umas poucas semanas, tive de mergulhar em várias páginas na maldita 'infernet' - como uma grande amiga chama a rede de computadores - para preparar uma matéria sobre o analfabetismo político que campeia sem peias (desculpem a rima medíocre, não resisti!) no mundo virtual em língua portuguesa. Nesse mergulho no lodaçal de ignorância, fanatismo e burrice em que o brasileiro médio se lambuza, topei com 'textos' e ideias inacreditáveis, uma verdadeira deep web visível à luz do dia sem pudores, e que fez minha já muitíssimo combalida fé na espécie humana definhar mais um pouco. Já com os nervos em frangalhos, encontrei uma página, a qual obviamente não nomearei, em que a seção dos comentários era impressionante: qualquer mínima postagem gerava um debate, entre os frequentadores da pocilga, que não raro atingia os mil comentários, vários bastante extensos. Como fui obrigado a colher uma amostra desses para a confecção da matéria, tive de ler vários. Surpreendi-me: entre tanto ódio, palavras de ordem insanas e quetais, estavam soterradas críticas inteligentes e ponderadas, sarcasmo e ceticismo saudável para com todas as ideias prontas. Pois bem, caros leitores, no meio de tanta idiotice, encontrei o relato abaixo, que reproduzo sem modificar uma vírgula que seja. É uma história rica de possibilidades, a partir de um trecho qualquer dela seria possível criar uma pequena saga tragicômica para atacar uma das maiores causas da tragédia nacional, a família tradicional cristã monogâmica, que os leitores devem se lembrar, ataquei e ataco sem tréguas.
Assim, posto a narrativa pelo cômico e ridículo a que ela expõe os protagonistas(não senti a mínima pena dos imbecis, espero que vocês também não se compadeçam deles) e como um oferecimento a algum leitor que tenha veleidades literárias, como uma inspiração, um  material bruto a ser lapidado em uma história que contribua para a missão de acabar com a hipocrisia e falsos valores morais que o brasileiro médio tanto prega.
Saudações canalhas e cafajestes

A História, portanto:

Em 2014 estive numa festa.
Era a celebração da “quaresma”, quarenta dias de vida, de um recém-nascido.
Filho de um jovem casal de evangélicos, na faixa dos 30 anos.
A mãe é dona de uma escola de reforço, filha de médico, com vida confortável.
O pai veio da periferia, e ganha a vida com pregação religiosa. Fundou uma igreja, virou pastor e foi lá que conheceu a mãe da criança.
O casal tentava engravidar fazia algum tempo, mas parece que o pastor era infértil.
Então ele fez tratamento e ela engravidou.
“Um milagre”, diziam eles.
E pra celebrar a chegada desse milagre, fizeram uma festa do arromba na mansão da família.
Não importa se a criança tinha apenas 40 dias de vida, se ela mal abria os olhos, ou se não parava de chorar por causa da música nas alturas.
O importante era mostrar para todos o sucesso deles.
E justiça seja feita, o casal ia muito bem.
A escola de reforço estava com mais de uma centena de alunos.
Contratava cada vez mais professoras pra dar conta da fila de espera.
A igreja do pastor não ficava para trás.
Agregava cada vez mais fieis, inclusive algumas figuras proeminentes da sociedade local.
Na hora do jantar, o pastor serve-se do microfone e começa a falar:
“Hoje em dia, o brasileiro abandona as suas crianças!”
“Os pais largam os filhos o dia inteiro na creche, pois não querem ter a responsabilidade de cuidar deles!”
“Mas o nosso filho, esse nós não vamos abandonar!”
“Ele foi um milagre, uma bênção de Deus!”
Eu já não aguentava mais aquela ladainha de doutrinação, de como eles eram bons e os outros não.
Estava ali só por causa da namorada, que tinha sido convidada.
Hoje ela veio me atualizar sobre o casal bem sucedido.
Em 2016 as coisas começaram a ficar muito ruins pra escola.
Quase todos os pais tirando seus filhos do reforço.
Tiveram de demitir todas as professoras, com exceção de uma.
A dona do reforço teve que arregaçar as mangas, e agora tá dando aula também.
O dízimo da igreja do pastor também definhou. E agora tá com um trabalho “de verdade”.
Mas no caso dela tinha um agravante. Seu pai, que era médico e sustentava a mansão, engravidou uma prostituta, separou-se da mulher e se picou da casa, deixando as contas pra eles pagarem. Dizem que o IPTU da mansão é um absurdo de caro.
Daí que parece que o casal não aguentou a primeira crise financeira.
Resultado? Separaram-se. E hoje a criança tão querida tá sendo cuidada quase exclusivamente pela avó e pela tia, porque os pais passam o dia trabalhando.
E como minha namorada ficou sabendo disso?
Ela perguntou pra uma amiga da família, depois de ver uma foto da mãe da criança no Facebook.
Estava de caipirinha na mão, com uma amiga conhecida por ser da rasgação.
Num show do Wesley Safadão.
  

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